segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Canberra. Ando distraído.

Tenho de ir à recepção da residência pedir mais um cobertor e vários cabides. Mas não me lembro como se diz cobertor e cabide. Consulto o dicionário: cobertor (blanket); cabide (clothes hanger). Ensaio a frase com que irei interpelar a recepcionista. Sinto-me preparado e lá fui: - “Good night, please, can you ask for place in my bed a hanger and extras clothesblankets in the wardrobe". O que anda um pintas da Boa Hora a fazer na Australian National University??

Ventoinha I

Chamariz para blogues. Uns optam por gajas, outros por gajos. Mas eu, é mais ventoinhas. Vai ser uma por semana. Nuínhas e boas. Só para arejar.

Homens rocha

A estes dois, já nem o Instituto de Socorros a Náufragos poderá salvá-los.

Canberra. Tampa vs Rolha

Gosto do vinho tinto Australiano sobretudo por causa da boa relação qualidade/preço. Coisa mais difícil de se conseguir em Portugal. Mas, francamente, aquela sensação de de estar a abrir um frasco de Xarope... Se a moda chega a Portugal, lá se vai a nossa tecnologia de ponta (a rolha). - Óh Pazinho, despacha-te lá a desatarraxar o vinho.

Perdidos

Estes dois continuam à deriva, perdidos e à espera do Instituto de Socorros a Náufragos.

Canberra: Espetadas de Crocodilo

Espetadas de carne de crocodilo. Crocodilo parece tamboril congelado há três décadas. Mais ou menos um misto de marshmallow de batata ressequido e peito de frango cozido em água salobra e branco miosótis da Robbialac. Provavelmente, os portugas descobririam a forma a tornar o crocodilo mais saboroso. Tipo, crocodilo à Bairrada ou arroz malandrinho de crocodilo. Entendo agora porque é que o Parque jurássico não terminou com uma jantarada. Prefiro Morcelas da Guarda!!

A luz de baba do Rafa e o BCP

Já passava das duas da madrugada. Parecia haver alguma incompatibilidade entre o Luís, a chave que segura atabalhoadamente e a fechadura da porta. Maria Alcina, sua mulher, observava-o numa espécie de silêncio resignado. Já fora uma sorte ter chegado a casa. Graças a Deus que a brigada não os mandou parar. Luís, esquecendo-se das mais elementares regras de cortesia entrou primeiro. Enquanto se dobra para tirar o sobretudo vê uma luz vinda da carpete. A luz. Um estranho feixe luminescente ligeiramente azulado, rodopiava sobre si mesmo desenhando uma espiral ascendente que se esfumava à altura dos joelhos do Luís. Já desembaraçado do casaco, Luís procura tocar no feixe. Exclama: - É o Rafa. Alcina, estás ver? A luz. Repara de onde vêm. Precisamente do sítio onde o Rafa expirou, dali, onde estava aquela nódoa da baba do Rafa. Meu Deus. O meu querido e fiel companheiro Rafa tem qualquer coisa para me dizer. O que será? Alcina: - Luís. É tarde. Vamos dormir. Luís entrou num choro compulsivo. Nem sei se chegara a adormecer. Sempre agarrado ao lenço, limpando os olhos. Rafa, o que é que tens para me dizer (neste caso “ladrar” é mais adequado)? Será que devo fechar a conta no BCP?

Já pela manhã. Alcina: - Luís, levanta-te e vem cá. Olha o que está no lugar da luz que tu viste. Parece-me que é um fragmento prateado de uma fita da árvore de Natal.

Nota: Isto é verídico e parece-me sério. Talvez esta história ilustre a relação entre os ex-combatentes do ultramar, a tendência para o álcool, a afeição aos animais, muitas vezes o companheiro fiel, o único ser em quem confia.

O Rafa do Luís


O Rafa do Luís. O primeiro cão em vias de ser beatificado. No entanto, o Vaticano continua à espera de novos sinais. A história vem no Jornal da Ordem.

O CNM

Em 1971, este blogue teve para se chamar CNM e este era o logotipo que idealizei. Tive de o retirar por constatar que a CNN se baseou na minha ideia. Um caso de plagio, portanto. O meu advogado, que tem um escritório na rua do Calhariz, aconselhou-me a desistir do intuito de processar a CNN. Diz que não tinha hipótese! Seja como for a sigla CNM era uma homenagem ao meu velho amigo Cázé. O tal que me ensinou a usar um termo bastante útil quando sentimos que já não temos capacidade para entender algo. Ou quando a descrença (ou a desgraça sentimental) impera. Caga Nessa Merda! Era assim que este blogue se deveria chamar.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Não gozem com o meu TM

Os meus amigos dizem que o telemóvel que uso é um comando de televisão. Nunca dera por isso. Será que o meu problema de coluna, em que esta se deforma, fazendo com que a cabeça se incline para o lado esquerdo deve-se ao peso do meu telemóvel? Reparando bem, noto que o bolso esquerdo do meu casaco conserva a forma de um cacete de pão Espanhol.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Canberra. Os meus passeios de fim de semana.

Apanho aleatoriamente um autocarro até ao seu destino final, Belkonen, onde junto ao terminal há um centro comercial com uma árvore de natal gigante e pessoas. Saio do shopping, dou um passeio junto ao lago com patos e galinhas de água e regresso ao terminal onde apanho aleatoriamente um autocarro até ao seu destino final, Woden, onde junto ao terminal há um centro comercial com uma árvore de natal gigante e pessoas. Saio do shopping, dou um passeio junto ao lago com patos e galinhas de água e regresso ao terminal onde apanho aleatoriamente um autocarro até ao seu destino final, Tuggeranong, onde junto ao terminal há um centro comercial com uma árvore de natal gigante e pessoas. Saio do shopping, dou um passeio junto ao lago com patos e galinhas de água e regresso ao terminal. Se, quando chegar a Portugal, alguém me perguntar como foi a estadia em Canberra, é esganado!!!Fanex!!!

Está explicado!

Hoje voltei a sonhar com ela. O meu amigo Pedro diz que sonhar com a Kate Blanchett faz parte do quadro clínico da estirpe de gripe deste ano.

Para mim Natal é isto!

Canberra. Estar avariado!

Cinco dias depois de chegar à Austrália. O que poderia acontecer de pior do que estar com dores musculares, dores de cabeça, febril e com suores? Só talvez a máquina de fazer chá avariar. E por falar, é normal uma chaleira eléctrica demorar três quartos de hora a aquecer a água?

Lost Property

Perder coisas é fodido!

Postcards and letters
T-shirts and sweaters
Passports and Parkas
Mobiles and chargers
Two tennis rackets
Blue Rizla packets
A new sheep-skin jacket
I lost it all

All through my life there have been
Many rare and precious things
I have tried to call mine
But I just cannot seem
To keep hold of anything
For more than a short time
Possessions of a sentimental kind
They were mine, now they're not

Gym-kits and trainers
Asthma inhalers
Silk-cuts and Bennies
Ten-packs and twenties
C-class narcotics
Antibiotics
The holes in my pockets
I lost it all

All that I'd like is to know
Just where do those lost things go?
When they slip from my hands
Then one night in a dream
I passed through a sheepskin screen
To a green, pleasant land
I found them all piled up into the sky
And I cried tears of joy

Divine Comedy - Lost Property

Jet lag 2

Mudo a posição “verão/Inverno” do colchão convencido que esta pode ser uma explicação para não conseguir dormir. Não faz efeito porque na Austrália é primavera.

Em Canberra. O Jet Lag

Onze horas de diferença em relação a Portugal. Acordo às três da madrugada com umas ganas de trincar cenouras e dançar tecno!

Quero dizer...é isto! Tás a ver a cena?

E a propósito. A história da Cabra do Pedigolho

Chamavam-lhe Pedigolho. Naqueles dias havia de tudo no covil. Parecia que nada faltava. Logo após a decrua, a terra dava musas e estrelas. Os frutos nasciam com os gomos à vista e o clima era propício à languidez. Jogavam-se as cartas e os sucos do dia. Ela era tudo para Pedigolho que não se cansava de gabar o requeijão, a sombra e as túberas que encontrava. Um dia a sua Cabra foi-se embora. Dizem que por não conseguir enfrentar o escárnio daquele amontoado de ruínas com quem, diariamente, se encontrava para jogar à sueca. Pedigolho entrou num surdimutismo profundo. Pedigolho dormiu durante cinco longos anos. Enfrentar no sonho a fantasia, sempre era mais fácil que sentir o peso da eira agora vazia. Um dia abriu os olhos e não esperou pelas filhós que o mantinham vivo e que Dona Previdência por compaixão lhe levava todas as manhãs. Levantou-se, vestiu-se e foi ter com os grisalhos. Quando chegou ao Bueiro não encontrou os velhos escombros das renúncias em copas. Nisto entrou a Dona Previdência como que antevendo o choque, aparou-lhe os fragmentos com um seco: - sumiram-se com o musgo. Pedigolho estendeu o linho na mesa, sentou-se à esquina e começou a dar as cartas e ficou-se pelo intróito: - meus senhores, está na hora da mudança... vou procurar outra cabra!

E o que é que a cabra tem a ver com isto?

A cabra montesa que me acompanhou durante largos momentos por entre os barrancos da serra de Gredos! A sua curiosidade era espantosa. Mantendo a devida distância, escolhia um ponto de observação elevado em relação à nossa posição. E ali ficava a perscrutar as nossas conversas e observações. Depois dirigia-se ao local onde tínhamos estado a analisar as rochas. Imagino a Cabra a levantar questões lógicas, daquelas que nós, geralmente, temos medo de enfrentar: - O que têm isto de interessante? - eu que passo aqui todos os dias, terei deixado escapar algo que merecia a pena observar? Será que não estou a dar o devido valor a estas pedras, só porque as piso todos os dias?

A Cabra da Serra de Gredos

Qual a relação entre a Kate Blanchett e a decisão de criar um blogue?

Estava eu numa esplanada no “the Rocks”, o bairro mais famoso de Sydney, a beber uma Cascade, a melhor cerveja do mundo e a ler os rótulos dos pacotes de chá que tinha comprado. Nisto, a Kate Blanchett sentou-se na mesa ao lado. Para minha estupefacção, ela perguntou-me onde é que eu tinha comprado aquele chá em especial (um estranho “Dehydrated Brussels cabbage tea with blueberries flavour”). Conversa puxa conversa e ofereci-lhe um bilhete do Metro de Madrid com uma dedicatória:
- “For the girl I would like to known when I was 11”. Falámos de tudo um pouco. Assuntos mundanos do tipo, doenças, pastéis de bacalhau, da Costa da Caparica, cremes para as manchas na pele, herpes labial e, claro está, de ventoinhas. Parece que ela gostou da minha companhia e convidou-me para ir passar um fim de semana com ela a Izmir, no intervalo dos trabalhos de um filme que ela vai rodar com o Tim Burton. É já em Janeiro.Vou ou não vou? Estou indeciso.

Só há uma maneira de começar bem.

Le Martin-Pêcheur