quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Especialista em Psicoterapia Camaleónica


As nossas crises existencialistas ao pé da que este bicho está a viver são uma simples inquietação. Ele sabe que aquele lugar não é o dele. Sabe que devia estar a apanhar insectos na Placa Africana. No entanto, ou porque se enganou a ler os mapas astrais, ou por qualquer outra razão (se calhar estava mesmo num processo de fuga), veio parar aos bordos da Placa Euro-asiática, a este pequeno refúgio circunscrito a umas pequenas, estreitas e muito vulneráveis linguas de areia na Ria Formosa. Ao saber que eu andava por ali, o bicho interpelou-me e abriu o jogo, expondo todas as suas ansiedades. E que não se conforma por ningúem se lembrar dele, por estar restrito aquele espaço tão exíguo, porque sente saudades dos seus amigos marroquinos e enfim, porque se sente longe das suas origens ancestrais, da sua terra, de Africa. Ah...e porque cá, as moscas são muito viçosas, calibradas mas que não tem sabor nenhum! Então eu, fazendo de psicoterapeuta, lá lhe fui dizendo que a mãe daqueles terrenos é Africa, que nós aqui na Peninsula Ibérica somos um prolongamento do Gondwana e que a actual separação geográfica não passa de um pretexto enganador resultante de acontecimentos fortuítos que terão começado à apenas 250 milhões de anos. Ele lá me foi dizendo que, depois da nossa conversa, sente-se um pouquinho mais em casa e que me espera voltar a ver em breve.

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