sábado, 29 de dezembro de 2007

E a propósito. A história da Cabra do Pedigolho

Chamavam-lhe Pedigolho. Naqueles dias havia de tudo no covil. Parecia que nada faltava. Logo após a decrua, a terra dava musas e estrelas. Os frutos nasciam com os gomos à vista e o clima era propício à languidez. Jogavam-se as cartas e os sucos do dia. Ela era tudo para Pedigolho que não se cansava de gabar o requeijão, a sombra e as túberas que encontrava. Um dia a sua Cabra foi-se embora. Dizem que por não conseguir enfrentar o escárnio daquele amontoado de ruínas com quem, diariamente, se encontrava para jogar à sueca. Pedigolho entrou num surdimutismo profundo. Pedigolho dormiu durante cinco longos anos. Enfrentar no sonho a fantasia, sempre era mais fácil que sentir o peso da eira agora vazia. Um dia abriu os olhos e não esperou pelas filhós que o mantinham vivo e que Dona Previdência por compaixão lhe levava todas as manhãs. Levantou-se, vestiu-se e foi ter com os grisalhos. Quando chegou ao Bueiro não encontrou os velhos escombros das renúncias em copas. Nisto entrou a Dona Previdência como que antevendo o choque, aparou-lhe os fragmentos com um seco: - sumiram-se com o musgo. Pedigolho estendeu o linho na mesa, sentou-se à esquina e começou a dar as cartas e ficou-se pelo intróito: - meus senhores, está na hora da mudança... vou procurar outra cabra!

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